AMELICE, MINHA IRMÃ
AMELICE, MINHA IRMÃ
Julio Borges Filho
Faleceu hoje 13.12.2021, no Hospital de Bom Jesus no Piauí, minha amada irmã de criação e prima: Amelice. Era uma das muitas filhas de tio Raul Guerra. Meu irmão Alvimar comunicou-me sua partida e deu-me o telefone de sua filha Luiza Almira. Telefonei para ela que estava em Bom Jesus preparando o corpo da mãe para levá-lo para Curimatá onde será sepultado. Chorou muito e eu lhe falei da importância de sua mãe na minha vida e a confortei. A morte de Amelice me transportou para minha infância e adolescência em Curimatá e Corrente.
Ela foi criada por mamãe que lhe impôs a mesma disciplina dispensada a nós seus filhos, e isso incluía surra de palmatória, etc. Branca, baixa, meiga, ela cuidou de mim quando menino. Não poucas vezes, à noite, ela se sentava na calçada alta de nossa casa na rua Trindade e eu me deitava com a cabeça no seu colo macio. Ela me fazia cafuné cantando porque tinha uma bela voz. Eu contemplava as estrelas ou a lua e viajava sonhando. Muitas vezes adormecia e alguém me levava nos braços para minha rede no quanto da frente da velha casa. Lembro-me das viagens a cavalo e burro para Corrente onde íamos estudar. Ela cuidava de nós na viagem de três dias e fazia à noitinha uma comidinha inesquecível: carne seca com maxixe ou macaxeira ou abóbora acompanhada de arroz. Nunca mais comi tal delícia e, na última vez que estive em Curimatá, falei isso pra ela e ela me prometeu fazê-la em minha próxima ida. Mas infelizmente não deu tempo. Papai alugava uma casa em Corrente, o irmão mais velho administrava (no meu tempo era Alvimar), e Amelice cuidava de nós maravilhosamente bem. Ah, que saudade daqueles tempos!… Ninguém fazia um beiju de tapioca como ela e, às vezes, o beiju com azeite de coco era o nosso café da manhã antes de andar uns dois quilômetros por caminhos de poeira até o ginásio de Instituto Batista Industrial. Casou-se com Louro (Lourival) que partiu bem antes dela. Quando sua filha Luiza Almira nasceu de um muito parto difícil, tão difícil que o barulho das panelas não a fizeram nasceu. Eu, com cerca de 14 a 15 anos, fui correndo de madrugada buscar na pensão de tia Josefa um bom e misterioso médico italiano que estava hospedado lá. Quando ele chegou na casa vizinha à nossa, conhecida como a casa de Amelice, expulsou as mulheres com suas panelas ficando apenas com a parteira. E a menina, finalmente, nasceu.
Agora, quando ela descansou de suas fadigas, eu agradeço a Deus por tão boa e amorosa irmã e fui forçado a fazer uma viagem no tempo de encontro aos bons tempos, e uma saudade infinita de Amelice brotou no meu coração. Que o consolo do Espírito Santo repouse sobre os familiares que lhe sobreviveram, inclusive meus três irmãos e três irmãs que a amavam. Deus certamente a recebeu em glória.