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O REINO DE DEUS (1)

O REINO DE DEUS (1)

                                                                                               Pastor José Carlos Torres

A expressão reino de Deus é o um dos conceitos centrais na mensagem de Jesus. Hoje, muito pouco estudado, é raras vezes enfocado nas mensagens que se proclamam dos púlpitos. E, quando isso ocorre, quase sempre a reflexão é feita sob uma ótica limitada e carregada de equívocos.

É importante ressaltar, logo neste início, que o reino de Deus é um conceito e uma realidade que, ao se estabelecer, é profundamente contracultural, isto é, diferente e questionadora dos conceitos e práticas do mundo e da cultura de qualquer sociedade em que se torne real como presença divina e força transformadora dos homens, pela ação do Espírito Santo.

Os judeus, no tempo de Jesus, dominados pelas ideias que fundamentavam a dimensão ideológica da sua cultura, tinham uma grande dificuldade para entender o significado e as implicações do que Jesus dizia quando afirmava a chegada do Reino de Deus. No judaísmo de então, como diz Darrell Bock”… Não havia uma visão unificada do Reino de Deus entre os judeus, além da esperança da poderosa vinda e vindicação de Deus. É importante entender que foi diante desse pano de fundo um tanto confuso e diversificado em suas visões que Jesus pregou essa esperança”.

Nós, brasileiros, que nunca realmente conhecemos o que significa viver numa monarquia e sob uma realeza por ela estabelecida (a experiência episódica de D. João VI e do Império não marcaram nossa história e nossa cultura de forma mais profunda), temos uma dificuldade conceitual e experiencial muito grande para entender e sentir o que isso seja. Ademais, dois conceitos, entre outros assentados equivocadamente por todas as vertentes do cristianismo que ao Brasil chegaram, contribuem também fortemente para que esta dificuldade se torne quase incontornável.

O primeiro desses conceitos é o que nos faz pensar a igreja principalmente como templo, e que nos levou ao templocentrismo e à rala presença na mentalidade dos cristãos brasileiros da consciência de que a igreja é gente, é povo de Deus, nação santa, corpo de Cristo. Esta é a igreja gerada pelo Espírito, no amor de Deus.

O segundo conceito equivocado está expresso numa dominante ideia institucional de igreja, tão presente em nossa cultura, e que funciona como necessária base ideológica para a sustentação da existência de uma instituição tida como de origem divina e gerada por Deus (as instituições são, sempre, criação do homem), inquestionável e à qual os homens devem servir. Como consequência deste conceito prevalece a ideia de que a igreja (institucional) é o reino de Deus.

Lamentavelmente, a ideia da igreja institucional como reino de Deus continua prevalecendo, apesar de a história mostrar que a igreja, nem sempre, é o reino de Deus presente entre os homens e, até mesmo, às vezes, se mostrou e se mostra como anti reino.

Os equívocos acima, bem presentes na mentalidade coletiva do cristianismo brasileiro, resultam quando menos nas seguintes consequências que, claramente, tornam mínimas a possibilidade de entendermos devidamente o que seja o reino de Deus, no pensamento de Jesus. Afinal, um reino, qualquer que seja, pressupõe um rei e um povo que vive sob o governo de um rei. E o Reino de Deus não dispensa, mas pressupõe como necessárias estas duas realidades.

Ora, se não nos pensamos, enquanto igreja, principalmente como povo de Deus, nação santa e corpo de Cristo e, somando-se a isso, ainda temos como outros dois dos mais fortes e influenciadores conceitos de igreja, a instituição eclesiástica e o templo (sem falar da “igreja empresa e lucrativo negócio”, mais recentemente inventada), como pensar em reino de Deus segundo o ensino de Jesus? Pois o que sobra é um reino sem povo e sem rei, com o poder e a autoridade concentrados na instituição eclesiástica e, como consequência (e parece que elas gostam muito disso), nas chamadas “autoridades religiosas”. E isso, nunca foi e nunca será Reino de Deus.

É…! Temos muito que refletir sobre isso, se queremos que o Reino de Deus seja uma realidade em nossas vidas e entre nós, o que passa necessariamente pela compreensão do que ele seja e das implicações disso para nós, como cristãos e igreja de Cristo no mundo.

No rumo desta reflexão e desta busca, brevemente estaremos juntos, numa segunda reflexão.

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