PETRÓPOLIS: O PALÁCIO QUITANDINHA
PETRÓPOLIS: O PALÁCIO QUITANDINHA
Julio Borges Filho
Fomos em família, ao todo seis pessoas, na tarde do sábado 6 janeiro de 2024, ao Palácio Quitandinha no bairro Quitandinha na zona sul de Petrópolis. Cenário deslumbrante com o palácio enorme e quadrangular de frente para o lago no formato do Brasil com seus jardins, e morros cercando a área por todos os lados tendo seus pés habitados com edifícios, casas, restaurantes e hotéis. Desde pequeno ouvia notícias pela rádio Mayrink Veiga falando do hotel e, só agora, vim conhecê-lo. Vir a Petrópolis e não ir ao Quitandinha é perder de conhecer ao mais belo e maior palácio da cidade.
O prédio foi construído de 1941 a 1944 e completa agora 80 anos. O mineiro Joaquim Rolla e seu cunhado Antonino Faustino o construíram para ser o maior hotel-cassino da América do Sul. Por ele passaram estrelas do cinema como Errol Flyn, Orson Welles, Lana Turner, Henry Fonda, Maurice Chevalier, Greta Garbo, Carmem Miranda, Wall Disney e Bing Croley. Passaram também políticos como Getúlio Vargas, Evita Perón e Henry Trumman. Aqui aconteceram eventos significativos como a assinatura da declaração de guerra dos países americanos ao Eixo na Segunda Guerra Mundial, e a assinatura em 1947 do tratado que, anos depois, se tornaria a Organização dos Estados Americanos – OEA. Com o decreto do presidente Eurico Gaspar Dutra, em 30.05.1960, acabando com o jogo no Brasil, o hotel passou por dificuldades e perdeu espaço para o Hotéis Glória e Copacabana no Rio de Janeiro. Joaquim Rollo, com dificuldades para mantê-lo, vendeu os apartamentos e o hotel foi transformado em condomínio, ficando apenas os salões do térreo para a parte cultural que é administrada hoje pelo SESC Rio. Foi criado, então, o Centro Cultural Quintandinha com parques privativos, piscinas (a piscina térmica tem o formato de um piano de cauda), boliche, patinação no gelo, teatros e restaurantes e, claro, exposições culturais.
Para comemorar os 80 anos do Quitandinha o SESC está promovendo a exposição “Da Kutanda ao Quintandinha” de 1 de dezembro de 2023 a 24 de fevereiro de 2024 com curadoria de Marcelo Campos. A exposição tem seis núcleos que começa no século 18 com a presença de negros na Freguesia Nossa Senhora da Inhomirin nas fazendas que usavam trabalho escravo. Daí as palavras do idioma quimbundo falado em Angola, “kitanda” (feira) e “kutanda” (ir para longe) gerando o nome Quitandinha. Mulheres negras operavam vendendo na feira (kitanda) tecnologias trazidas da África e produtos da terra, e a quitanda era assentada exatamente no lugar onde foi construindo o palácio. A exposição é grandiosa pelos salões esplêndidos com seus lustres magníficos. Artistas negros apresentam peças teatrais, e dois importantes artistas negros que tiveram parte no antigo hotel-cassino são homenageados: Tomás Santa Rosa (1909-1956), pintor e ilustrador, e o gaúcho Waldir Tibério (1920-2005), militante político e antirracista, que fez no Quitandinha em 1946 uma exposição com 130 obras. “Pensar e celebrar os 80 anos do Quitandinha, focando a arte e cultura, é rever uma história, sublinhar fatos, em sua maioria desconhecidos, é cuidar para que uma sociedade desigual não permaneça”, afirma Marcelo Campos.
Saí do Palácio impressionado com a exposição e com os salões belíssimos. Tiramos fotos para os 15 anos de nossa netinha na frente do Quitandinha, contemplamos a beleza do lago e seus luxuosos hotéis, e fomos comer deliciosas pizzas no restaurante do Lago Sul.