Política e Cidadania
Política e cidadania andam de mãos dadas e têm origem comum. O cidadão é aquele que goza dos direitos civis e políticos de um Estado, ou no desempenho de seus deveres para com este, envolvendo os conceitos de liberdade, de deveres e de garantias individuais (o termo vem das cidades-estado da Grécia antiga). A política (vem do grego “polis”, cidade), no seu mais amplo sentido, é a busca do bem comum dos cidadãos. Portanto, sem a política a cidadania não seria possível, e vice-versa.
O desafio político mais importante hoje no Brasil é a conquista da cidadania para todos. Milhões de brasileiros estão marginalizados e excluídos de seus direitos fundamentais como seres humanos. Para tanto é necessário que todos se mobilizem: governo e sociedade. As igrejas como segmento importante da sociedade devem tomar a iniciativa. É missão da igreja conscientizar seus membros de sua cidadania terrena, pois os melhores cidadãos da pátria terrena devem ser os cidadãos da pátria celestial. Esse tem sido o desafio dos cristãos através dos séculos.
Examinaremos, suscintamente, as posições cristãs na história em relação ao mundo, os princípios cristãos da cidadania, e as implicações práticas deles.
Posições cristãs na história
- A posição monástica: “o cristão não é do mundo e deve fugir do mundo para contemplar a face de Deus” – Surgem os monges e os mosteiros. Cristãos saem das cidades e vão para o deserto para viverem em contemplação. Tal posição durou séculos e era um protesto veemente contra a união da Igreja e do Estado após o imperador Constantino (início do século IV d.C). “O mundo jás o maligno”. Fugir dele, através do ascetismo, era a solução para muitos.
- A posição do protestantismo tradicional: “o cristão não é do mundo, mas está no mundo” – A reforma do século XVI, a despeito de ter mudado o mundo trazendo grandes avanços para a humanidade, construiu, com o tempo, um monasticismo intra-mundo. Com raras exceções essa tem sido a posição das igrejas e da maioria dos cristãos. Trata-se de uma concepção estática da relação da igreja com o mundo: a igreja deve cuidar da ordem moral, religiosa, espiritual, e o mundo deve cuidar da ordem temporal e profana. Devemos defender os nossos da ameaças do mundo ao invés de prepará-los para enfrentá-las. “Política é coisa do diabo” – eis uma heresia dos anos sessenta no Brasil, fruto, por certo, dessa posição tradicional. Vive-se no mundo, mas não se luta para transformá-lo.
- A posição liberal: “o cristão está no mundo para salvar o mundo”. Numa posição extrema às duas posições anteriores, a teologia liberal negou na prática a ação contemplativa e transcendente. É a ênfase ao Evangelho social. Por enfatizar a ação esqueceu-se da devoção. É a ansiosa posição de Marta (Lucas 10:38-42).
Qual das três posições acima é a correta? Cada uma delas tem seus aspectos negativos e positivos. Juntá-las, porém, daria uma síntese correta: “o cristão não é do mundo, mas está no mundo para salvar o mundo”. Não é do mundo porque tem a natureza divina, mas não pode negar a sua realidade mundana, e recebeu de Cristo a missão salvadora e revolucionária do Reino de Deus, que “não é deste mundo” porque não tem a sua origem corrupta, mas invadiu a terra e a inclui.
Princípios cristãos
- A encarnação – a encarnação de Jesus Cristo (João 1:14) valorizou o ser humano e este mundo, desencadeando o processo redentor na história. E o processo de encarnação continua. A igreja é o corpo de Cristo continuando sua missão no mundo. Deve, portanto, imergir na comunidade sem perda de sua identidade cristã e assimilando dados fundamentais para a compreensão da mesma.
- A Missão integral da Igreja – A nossa missão é moldada na missão de Jesus: “Assim como o Pai me enviou, eu vos envio” (João 20:21). Esse mandato envolve todas as áreas da vida humana. Portanto, todas as vocações são sagradas, inclusive a vocação política como reconheceu Calvino. Todas as áreas de interesse humano devem ser permeadas de cristãos como sal da terra e luz do mundo. A ação da igreja é tripla, como ensinou Robinson Cavalcanti: assistência social = dar o peixe; ação social = ensinar a pescar; e ação política = dar acesso ao açude. A ação política, pois, é essencial porque defende os direitos fundamentais da pessoa humana e as causas justas da sociedade.
- Contextualização – A ação da igreja e dos cristãos deve ser contextualizada na história, na geografia e na cultura humana. Estamos diante de um desafio: o que significa ser membro do Corpo de Cristo num país marcado por gritante iniquidade social? Cada cristão precisa assumir, no seu contexto, a sua cidadania. Precisamos urgentemente de uma eclesiologia contextualizada que leve em conta a identidade cristã e a identificação com os pobres e marginalizados.
A prática cristã da cidadania
- Participando do poder comunitário – A cidadania começa a ser exercida na comunidade onde moramos, e depois estendida a todas as áreas de nossa convivência onde deveres e direitos são afirmados.
- Convivendo com os diferentes – Não podemos nos isolar num monasticismo intra-mundo, mas temos que nos relacionar e agir com outros que são diferentes de nós. É a cobeligerança, defendida por Francis Schaefer, na busca do bem comum.
- Construindo a história – A ação cidadã cristã implica no exercício do poder de educar para a cidadania (e isso revolucionaria os programas de educação cristã de nossas igrejas porque casaria as verdades bíblicas com a leitura da realidade), a participação ativa na construção da história da comunidade, da cidade, do estado, do país e do mundo.
É edificante a história da andorinha que, diante do incêndio da floresta, voava solitariamente levando gotas de água no seu pico lançando-as sobre as chamas. Cansada, após centenas de vôos, sentou-se à beira de um rio ao lado de um elefante que zomba do se esforço, e ela responde: “estou fazendo a minha parte”. Só a ação cidadã e a luta política de cada um e de todos podem apagar as chamas da injustiça, da violência, da corrupção e da miséria que assolam o Brasil e o mundo.
Estou certo de que as igrejas, os pastores e seminaristas podem desempenhar um papel fundamental na conquista da plena cidadania de todos os brasileiros. Só assim a sociedade controlará o governo e o Estado tornando-se servos do povo como recomenda a Palavra de Deus. E mais: as igrejas recuperarão a sua voz profética e a sua missão redentora de agências do Reino de Deus no mundo.
Julio Borges Filho
Deus tem o conteudo certo para preencher nossos dias.
Fé e paz, cidadania e alegria.
Dentre todos os frutos do espirito, o AMOR É O MAIOR DOM.
Que Deus nos encha de esperança e que as BOAS NOVAS alcancem a todos nós.
Pastora Rivane Pedra