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Evangelhos que chocam (1): AS AVÓS DE JESUS – Mateus 1:1-17

Evangelhos que chocam (1):            AS AVÓS DE JESUS                        – Mateus 1:1-17

Julio Borges de Macedo Filho

            O Evangelho de Mateus, no meio de genealogia de Jesus de homens, menciona quatro mulheres. Por que? O capítulo 1 mencionam 5 mulheres com Maria.

Examinemos a história dessas mulheres no AT e a de Maria no NT que nos revelam um evangelho que choca por que suas histórias são escandalosas, mas significativas. Elas falam. É a voz feminina querendo fazer parte da história sagrada. Elas viveram numa épocas que as mulheres não tinham vez e nem voz. A linguagem patriarcal é da terra e a história só pode ser realizada pelos homens. As mulheres, como as crianças, não são contadas nem mencionadas, muito menos em genealogias que eram atestado de linguagem apropriada.

TAMAR, A CANANITA – Gênesis 38 

            É uma história da tradição Javista escrita durante os reinados de Davi e Salomão, colocada no meio da história de José, para mostrar a origem da tribo de Judá que se destaca de seus irmãos misturando-se com os cananeus.

O primogênito de Judá, Her, tomou Tamar como esposa, mas ele não teve filhos com ela e morreu, segundo texto, porque “era perverso diante do Senhor”. Judá diz a Onã, seu segundo filho, que possuísse Tamar, segundo o levirato, para dar descendência a Her. Onã, todas as vezes que possuía Tamar, deixava o sêmen cair no chão, para não dar descendência a seu irmão. Isso “era mau perante o Senhor, pelo que Deus também o fez morrer”. Aí Judá condenou Tamar à viuvez perpétua mandando-a para a casa de seus pais (Selá era ainda uma criança).

Judá perde uma filha e, depois de consolado, sobe a Timna, com seu amigo Hira, onde estavam seus tosquiadores de suas ovelhas. Tamar foi avisada. Ela tirou as vestes de sua viuvez e se vestiu como uma prostituta cúltica, assentou-se na estrada no caminho Timna, porque viu que Selá já era homem e “ela não lhe fora dada por mulher.” Judá a viu, e tendo-a como uma meretriz, disse-lhe: “Vem, deixa-me possuir-te.” Ela cobra um preço e ele lhe promete um cabrito do rebanho. Ela lhe pede penhor como garantia e sugeriu o selo, o cordão e o cajado de Judá. Ele deu o que ela pediu e a possuiu; “e ela concebeu dele”. Judá mandou o cabrito por seu amigo, mas não a encontrou. Depois de quase três meses ele recebeu a notícia que Tamar estava grávida. Eis a condenação de Judá: “Tirai-a fora para ser queimada”. Ela manda-lhe um recado: “Do homem de quem são estas coisas eu concebi. E disse mais: Reconhece de quem é o selo, e por este cordão e este cajado?”. Judá os reconheceu e disse: “Mas justa é ela do que eu, porquanto não a dei a Selá, meu filho”. Vieram gêmeos: Perez e Zera. Perez foi um dos antepassados de Jesus, e Tamar avó dele.


RAABE, A MERETRIZ – Josué 2 e 6
 

            Raabe esconde os espias israelitas enviados por Josué a Jericó. Jericó era a cidade mais fortificada da Terra Prometida. Eles se hospedaram na casa de Raabe, a meretriz, que ficava em cima do muro da cidade. O rei de Jericó sabe e manda interrogar Raabe. Ela diz que os homens estiveram lá, mas já tinham ido embora e que eles se apressarem, os encontrarão pelo caminho. Ela tinha escondido os espias no eirado de sua casa.

O pacto de Raabe e os espiões mostra que ela aderiu à fé de Israel. Ela relata aos espiões o medo de todos em Jericó com as notícias maravilhosas das vitórias do povo de Deus em sua saída do Egito e em sua peregrinação pelo deserto, e propõe proteção para ela e sua família. Os espias colocam condições: sua fidelidade em não delatá-los e a reunião em sua casa de todos os seus e seus bens, e colocaram um cordão escarlate em sua janela. Raabe concorda e dá orientações a eles, e eles descem por uma corda, escondem-se por três dias num monte para despistar os perseguidores, e depois retornam com o relatório a Josué.

O grande líder de Israel, quando da memorável tomada de Jericó, mandou os espias salvar Raabe, sua família e seus bens, e ela recebida no meio de Israel como uma heroína nacional, casou-se com Salmon (tataravó do rei Davi), e foi uma das avós de Jesus.

RUTE, A MOABITA – Livro de Rute

             História dos juízes apresenta uma história em círculo: o povo se afastava de Deus, era dominando pelo inimigo, arrependia-se, e Deus levantava um libertador (juiz), e foram muitos juízes. O livro de Juízes termina com um crime hediondo que provocou a guerra civil contra a tribo de Benjamim, e o diagnóstico: “Naqueles dias não havia rei em Israel, e cada um fazia o que lhe parecia correto” – Jz 21:25. A história de Rute apresenta uma saída histórica para os israelitas.

            O Livro de Rute – Capítulo 1 – Elimeleque, fugindo da fome em Belém de Judá, com sua esposa Noemi e seus dois filhos foram para Moabe. Com sua morte, os filhos se casaram com moabitas: Orfa e Rute. Passaram dez anos por lá. Os filhos morrem. As mulheres choram… Noemi tenta convencer suas noras a ficarem com seu povo. Orfa volta para seu deus Camos; Rute volta com Noemi e converte-se a seu Deus, Iahveh (Dt 23:4 proibia os moabitas de entrarem na Assembleia de Iahveh). A chegada em Belém na época da colheita de cevada é amarga (Filosofia da tragédia). Capítulo 2 –  Rute por acaso vai apanhar espigas (respingar) e, por acaso, cai no campo de Boaz (Filosofia do acaso), e este a protege… Capítulo 3 – Noemi ensina a Rute como arranjar um marido (filosofia da cilada). E capítulo 4 – Casamento de Rute com boas e a bênção do povo e dos anciãos de Belém (vrs.11 e 12), o nascimento de Obede, pai de Jessé, avô do Rei Davi, e Rute uma das avós de Jesus.

            Deus dirige a história de modo estanho e não pode ser engessado por ninguém.

BETESEBA, A HETÉIA – 2 Samuel 11 e 12 

Na guerra contra os amonitas que, como os moabitas, eram descendentes de Ló com suas filhas (incesto), Davi fica em Jerusalém. Era um quarentão em plena crise dos quarenta e, passeando no terraço do palácio, avistou uma bela mulher tomando banho. Pede informações, e sabe que ela é Batseba, esposa de Urias, o heteu, e filha de Eliã. Seria Eliã filho de Aitofel, o homem mais sábio da época? Se sim, fica explicado a amargura do grande homem que se aliou a Absalão contra Davi, e finalmente se enforcou. Davi, mesmo assim, mandou buscá-la, teve relação sexual com ela, e ela se engravidou. Davi manda mensagem a Joabe para que lhe mande o mercenário heteu, Urias, um excelente soldado que se recusa a dormir com sua mulher enquanto o exército de Joabe estava em combate. Não caiu em nenhuma das artimanhas do rei, mesmo embriagado.  Davi então escreve uma carta a Joabe e a envia por Urias, orientando-o colocá-lo na frente de batalha e deixá-lo só para morrer. Joabe colocou Urias onde havia os guerreiros mais valentes dos inimigos, e ele morreu… Joabe envia um mensageiro a Davi que relatou tudo. Batseba chora a morte do marido e cumpre o luto. Depois Davi leva-o para o palácio e a toma por mulher. “Mas a ação que Davi praticara desagradou a Iahweh.”

O profeta Natã vem a Davi com uma história simples de injustiça de um homem rico contra o pobre que só tinha uma ovelhinha doméstica. O rico, recebendo um hóspede, manda matar a ovelhinha do pobre, e isso provoca a ira do bom rei. “É digno de morte quem assim agiu e ainda deve devolver quadruplicado o que roubou”, disse Davi. “Tu és este homem…” foi a dura acusação do profeta. Deus poupa a vida de Davi, mas o filho do adultério morre apesar de uma semana de jejum e oração do rei. Depois Batseba deu à luz a Salomão, e se tornou uma das avós de Jesus.
 

MARIA, A BENDITA ENTRE AS MULHERES – Mateus 1 

            Maria era apenas uma mocinha camponesa grávida antes de conhecer seu noivo-esposo José que, por ser um homem justo e não querendo difamá-la, resolveu escondê-la discretamente ao invés de repudiá-la publicamente. José não a submete ao Ordálio de Nm 15:11-31 nem aos rigores da lei, o apedrejamento (DT 22:20). Mas a voz do céu intervém com um anjo em sonho, mensageiro da linguagem divina, para garantir a vida da criança e o direito da mulher ter seu filho em ambiente favorável.

Por isso o Magnificat, o cântico de Maria, é um hino, um documento revolucionário e a carta magna da plena libertação da mulher. 

Lições deste Evangelho que chora: 

            1ª) Todas as avós de Jesus eram gentias: As boas novas do Evangelho são para todas as nações sem distinção.

2ª) Todas elas, inclusive Maria, tiveram histórias escandalosas: A Boa Nova do Evangelho não é moralista, mas acolhedora de todos.

3ª) Todas eram mulheres corajosas que usaram dos meios que depunham para sobreviverem e se defenderem: As Boas Novas do Evangelho dá voz às mulheres como instrumentos de Deus para a redenção do mundo e abençoa a sua luta.

 

Júlio Borges de Macedo Filho

PASTOR JULIO BORGES DE MACEDO FILHO Piauiense de Curimatá, 72 anos com 48 de pastorado, filho de Julio Borges de Macedo e Arquimínia Guerra de Macedo, é o sétimo filho de uma família de onze irmãos. Casou-se, há 48 anos no dia de sua ordenação ao ministério pastoral, com a professora Gislene Rodrigues Lemos de Macedo e tiveram quatro filhos: Juliene, Jusiel (falecido), Julinho e Julian. Agora Deus lhe deu a primeira neta chamada Sarah, de apenas 8 anos. Concluiu o curso de Bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil, em Recife. Formou-se em 1969 e foi ordenado ao ministério pastoral no dia 22 de fevereiro do mesmo ano. Pastoreou as seguintes igrejas: Igreja Batista do Rio Largo – AL (1969 a 1972), Primeira Igreja Evangélica Batista de Teresina – PI (1972 a 1978), Primeira Igreja Batista de Ilhéus – BA (1978 a 1979), Terceira Igreja Batista do Plano Piloto – Brasília (1979 a 1989), Igreja Batista Noroeste de Brasília (interinamente em 1985), Primeira Igreja Batista de Curimatá – PI (interinamente em 2000), e desde 1989, a Igreja Cristã de Brasília. Tomou a iniciativa para a organização das seguintes igrejas: Primeira Igreja Batista de Picos –PI, Igreja Batista do Lago Norte – Brasília, Igreja Batista Noroeste de Brasília (hoje, Igreja Batista Viva Esperança), e a Igreja Cristã de Brasília. Ordenou cerca de 20 pastores e uma pastora, consagrou dezenas de diáconos e diaconisas por onde passou, e celebrou mais de 500 casamentos. É considerando no Distrito Federal um pastor de pastores. Líder denominacional foi presidente da Convenção Batista Alagoana, da Convenção Batista do DF (três vezes), do Conselho de Pastores Evangélicos dos DF (duas vezes); participou de vários organismos batistas como o Conselho de Planejamento e Coordenação da Convenção Batista Brasileira, das juntas administrativas do Seminário Teológico Batista Equatorial e do Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil; e por 20 anos foi professor da Faculdade Teológica Batista de Brasília ensinando as seguintes disciplinas: Estudos de problemas brasileiros, ética cristã, teologia pastoral, teologia contemporânea, ministério urbano, teologia bíblica do Antigo Testamento, e homilética. Como teólogo produziu muitos artigos, teses, e palestras nos mais diferentes lugares, e participou de muitos congressos, seminários, fóruns, retiros, entre eles o Congresso Internacional Lousane II realizado em Manila, Filipinas em 1989. Foi orador de várias assembléias convencionais, e pregou em muitos congressos e igrejas por todo o Brasil. Como poeta e escritor já gestou e publicou cinco livros (Missão da Igreja e responsabilidade social, Voando nas asas da fé, Um sonho coberto de rosas, Suave perfume, e Uma grande mulher), tem quatro prontos para publicação, e está grávidos de mais dez livros que espera escrever e publicar nos próximos oito anos. Na área política assessorou deputado Wasny de Roure, por muitos anos, tanta na CLDF como na Câmara dos Deputados; assessorou por pouco tempo os deputados distritais Peniel Pacheco e Arlete Sampaio; o Ministro da Educação, Cristovam Buarque, como chefe da Assessoria Parlamentar do MEC, e depois assessor parlamentar do Senador Cristovam Buarque. Nesta área produziu muitos escritos sobre os evangélicos e a política, fez inúmeras palestras, promoveu muitos seminários, e foi fundador e coordenador de vários fóruns, entre eles o Fórum Político Religioso do PT, o Fórum Religioso de Diálogo com GDF, o Fórum Cristão do PT Chegou a Brasília em junho de 1969 e, desde então, a elegeu como sua cidade do coração. Agora, aposentado, deseja dedicar-se a apenas duas atividades essenciais: pastorear graciosamente a Igreja Cristã de Brasília e Brasília, e escrever apaixonadamente. Sua grande ênfase ministerial tem sido o amor cristão, a graça maravilhosa de Deus revelada em Jesus Cristo, a responsabilidade social das igrejas e dos cristãos, e o ministério urbano da igreja.

Um comentário sobre “Evangelhos que chocam (1): AS AVÓS DE JESUS – Mateus 1:1-17

  • Pastor Júlio
    Percebi que versou sobre variantes do tema mas na verdade o que estava em pauta era: Quem são os avos de Jesus?
    Não existe resposta bíblica, mas os historiadores tem ela. O pastor não considera as respostas extra bíblicas e tão pouco a dos livros apócrifos como parâmetro, percebi isso. Mas os teólogos se posicionam, por isso quero saber sua opinião pessoal: Quem são os avos maternos e paternos de Jesus?

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