Artigos

Mensagem: Dia do Pastor 12/06/22

DIA DO PASTOR

Texto: Jo. 10:11-18

Na Bíblia o trabalho de cuidar dos seguidores de Deus , tanto no VT quanto no NT é chamado de pastoreio, ou seja, o líder é chamado de pastor e os seguidores de ovelhas, ou rebanho.

Essa imagem foi adotada e era usada porque todos conheciam as características e peculiaridades dessa profissão/função.

A ovelha normalmente era um animal dócil e frágil, completamente dependente da proteção externa e do suprimento de alimento e água. O responsável por isso era o pastor.

A relação pastor-ovelha era tão forte que Deus usou essa figura para mostrar a relação do líder com os seguidores. Essa imagem era usada no AT para os sacerdotes, profetas, reis e para os anciãos.

No NT Jesus confirmou essa figura e se apresentou como o Bom Pastor, o pastor ideal. E quando Ele afirma isso dá algumas dicas sobre as características do pastor ideal.

1 – A relação pastor-ovelha não é uma relação profissional. É uma relação existencial. O pastor tem um compromisso com as ovelhas que envolve a sua própria vida. A vida do pastor e das ovelhas se confundem a ponto de o pastor estar pronto a oferecer a sua própria para salvar a das ovelhas.

A relação profissional/mercenário não consegue ter a profundidade necessária para garantir a proteção e cuidado das ovelhas. O mercenário tem a sua vida, suas necessidades, seus desejos, acima das necessidades das ovelhas.

O Bom Pastor, ao contrário, considera o bem estar das ovelhas seu objetivo principal.

2 – O Bom Pastor antecipa os perigos que podem sobrevir às ovelhas e as protege. O mercenário percebe a aproximação do lobo e foge deixando as ovelhas à mercê das feras; o bom pastor, na mesma situação, corre a coloca-las em segurança e, caso não haja tempo, ele enfrenta o lobo para proteger o rebanho.

3 – O Bom Pastor tem uma relação pessoal com suas ovelhas, as conhece, conhece suas histórias, suas virtudes, suas manias e sabe tratar com elas. Mas o Bom Pastor também é conhecido pelas suas ovelhas, expõe sua vida, não impõe distância ou hierarquia, não cria mito. É um relacionamento pessoal e amoroso.

Jesus, querendo ensinar sobre o cuidado que o Pai tem com as ovelhas, contou a parábola da ovelha que se desgarrou do rebanho de cem, O Pastor ignorando toda a argumentação racional, de bom senso, de proteção, de justiça, abandonou as 99 em segurança e foi atrás da desgarrada até encontrá-la e trazê-la à segurança.

O Bom Pastor não tem a medida racional de valores. Para ele uma ovelha vale mais que todas as demais, qualquer uma delas. Por uma ele faz o necessário como se fosse para proteger todas.

Jesus se apresentou como esse pastor, com essas características.

E ao deixar as bases para a criação de uma comunidade de amor e de serviço, a igreja, Ele passou adiante, para alguns, essa responsabilidade. Logo depois de sua ressurreição, Jesus encontrou Pedro e o questionou por três vezes, se ele o amava, para compensar a cada vez que Pedro o negou. Após cada resposta de Pedro, confirmando seu amor ao Mestre, Ele desafia Pedro: “Apascenta as minhas ovelhas.” Jo.21:15. Transmitindo a Pedro a incumbência que Ele havia declarado ser sua: pastorear as suas ovelhas.

E aqui, sutilmente, Jesus introduz um conceito muito importante: o pastor deve tomar conta, mas as ovelhas são de Cristo, não são do pastor.

E Pedro recebe essa incumbência ao confirmar, por 3 vezes, o seu amor a Cristo. O pastoreio deve ser fruto direto do amor a Cristo.

Depois que Cristo ascendeu aos céus e mandou o Espírito Santo para orientar a criação e o desenvolvimento da Igreja, a comunidade retrato do Reino de Deus, para propiciar e garantir as habilidades necessárias para a vida dessa comunidade, o Espírito distribuiu as habilidades em forma de dons, É o que podemos ler em Ef. 4:11-16. E na lista dos dons distribuídos está o dom de pastores e mestres.

Há uma discussão se isso constitui apenas um dom, o de pastor e mestre, ou se são dois dons separados, o de pastor e o de mestre.

O dom do pastor é o dom do cuidado, do acolhimento, da proteção e da disponibilidade. O dom do mestre seria a capacidade de compreender, interpretar e transmitir as verdades do Reino de Deus.

Com o passar dos tempos, a igreja institucionalizou e profissionalizou a figura do pastor, concentrando na pessoa do sacerdote a expectativa de praticamente todos os dons previstos a serem distribuídos entre os membros da igreja, criando uma distorção: obrigando o sacerdote a exercer todos os dons, o que não é necessariamente verdade, e isentando os demais membros de procurar e exercer seus próprios dons, concedidos pelo Espírito Santo.

Essa atitude da igreja fundiu e confundiu o cargo com a função. O dom do Espírito, que é dado a quem lhe apraz, passa a ser exigido do sacerdote.

Também abriu espaço para a concentração de poder nas mãos dos sacerdotes, criando uma hierarquia e distância entre este e o rebanho, invertendo as posições originais. O Bom Pastor é aquele que serve, que vive pelo seu rebanho ao ponto de dar a sua vida pelas ovelhas e não aquele que é servido, que usufruí da posição para ganhar o respeito e status.

Mas o Espírito, na sua grande misericórdia, tem garantido que, mesmo sob essa situação não ideal, a igreja tem sido atendida nas suas necessidades, seja pelo exercício dos dons por membros dotados, mesmo sem cargos, seja pelo esforço e sabedoria de muitos pastores que conseguem superar seus limites e conseguem vislumbrar a presença dos dons na comunidade e usá-los.

Neste dia comemoramos o Dia do Pastor, uma justa homenagem àqueles que decidiram, por amor a Cristo, dedicarem suas vidas às ovelhas.

Nunca pudemos afirmar e garantir que o cargo e o título de pastor fossem garantia de que a função estava sendo bem exercida. A presença do mercenário sempre foi uma possibilidade concreta. No Brasil, nos dias atuais, essa situação tem se mostrado muito claramente. Temos visto muitos líderes que usam o título e a posição para usufruírem de benefícios, status e mesmo poder e riqueza.

Nós da ICB podemos e devemos dar graças a Deus porque Ele tem nos dado pastores que realmente colocaram e colocam suas vidas a serviço e não para serem servidos. Temos tido também pessoas que mesmo sem o título têm exercido o pastorado entre nós. Devemos dar graças a Deus porque temos compreendido e exercitado, na medida do possível, o sacerdócio universal, em que cada um pode usar seus dons na comunidade.

Mas devemos dar, hoje, uma ênfase especial àqueles que dedicaram suas vidas, seu tempo, e se prepararam para melhor servir. Temos hoje em nosso meio o Pr. Júlio Borges, nosso decano e exemplo de pastor amoroso, sábio e acolhedor, além de seu vasto e profundo conhecimento bíblico e teológico. Temos o Pr. Noé Stanley, que, mesmo distante hoje, ainda tem o imenso carinho de nossa igreja por sua sabedoria, coragem e pelo papel importante que teve na fundação de nossa igreja. Temos o Pr. José Carlos, que sempre nos traz um olhar preocupado com nossa condição de seres humanos.  Temos a Pra. Ádila, que mesmo ausente do convívio pessoal, tem sido nossa referência na participação na luta partidária como filha de Deus,. Temos o Pr. Alisson, que sempre nos traz uma palavra de bom senso e praticidade,  e temos os Pr. Wilson e Pra. Wall, nossas últimas “aquisições” que trouxeram um novo gás à ICB e também nos trouxeram a pauta da luta pelos direitos sociais e cujas militâncias são desafios e encorajamento para a igreja.

Como percebemos, Deus nos mandou pastores com ênfases diferentes que, somados, nos fazem ter uma visão muito mais clara e ampla do Evangelho, do Reino de Deus e da nossa responsabilidade no mundo em que vivemos. Todos têm nosso total apoio. Um não se sobressai a outro. Todos, em equilíbrio, nos ajudam a sermos uma igreja acolhedora, amorosa, inclusiva mas combativa e contextualizada.

Agradecemos a Deus pelas vidas de todos eles e gostaríamos de, nesta data, fazer-lhes uma singela  mas justa homenagem.

12/06/2022

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *